Manifestamos desde cedo a nossa opinião, a nossa posição e alguns — a nossa ambição. Crescemos e aprendemos, pelo que vemos, pelo que nos mostram e pelo que nos ensinam. Formatados, formatamos o mundo numa perspetiva (ainda) curta do que queremos ser, como queremos ser. Academizados, na maior parte do tempo, entramos na idade adulta com a jovialidade de ver no exemplo por cópia, o exemplo do que queremos ser. Depois disso, dá-se um ocasional estado.

O cérebro, apto a tal, coordena-se numa dança peculiar, abraça e repudia vontades, desperta para o estado verdadeiro, aquele que traz dores de crescimento; aquele que se instala poucas vezes, porque conheço poucos que se dedicam a ouvir a sua própria voz, a sua consciência. Passei e passo por esse estado, vivo com a certeza que a maior parte do que sei, do que quero saber, do que me interessa é acima de tudo, aquilo que me permite olhar para mim e para os outros com a vontade da vitória; de ser algo para lá de um nome; uma posição.

Esse ciclo dói. E cura. Volta a doer e nesse balanço entre dar e receber (diga-se a mais justa e bela forma de ver a vida, obrigada Variações), encontro o estilo de vida que alinha o trabalho com as ambições, com a dedicação dos outros e para os outros, com a criação de estados sempre melhores, sempre maiores. São dores de crescimento para quem sente a sua realidade desligada do academismo que justifica tudo, excepto aquilo que não nos dá, nem nos ensina ou dispõe.

O meu contexto profissional é também o motivo para poder falar e escrever de uma forma concreta sobre o que observo num mundo cada vez mais dedicado à resposta imediata, ao resultado instantâneo. Isso é errado, para mim pelo menos, para mim é melhor a perceção do que fui capaz, do que sou capaz e do que tenho e devo passar aos que me rodeiam. Tenho 29 anos, gosto de ver, de observar, de entender. De tudo o que faço tive a experiência de passar por diferentes processos, abordagens, responsabilidades e sensibilidade. Gosto de me entruzar com questões simples que mostram que nada, nada na vida, nada, em nenhuma profissão faz sentido se a luz consciente que define o facto de querermos ser mais (uma existência consciente, um marco, um dado concreto), não nos atingir o coração, a consciência e uma mão cheia de força só para que todos os dias haja mais uma boa dor, porque cresci.

Catarina Rodrigues, diretora de arte do studium

Um artigo sobre a vida, a visão, a profissão e o crescimento